Até que demorei pra falar desse gibi no Balbúrdia. Porque José Carlos Fernandes trabalhamos (né, Dandara?).
Aqui, o impulso borgeano de Fernandes segue ativo, mas a referência maior é outro escritor: Italo Calvino (sobretudo o de Cidades invisíveis).
Esse proceder de geografias, vidas e peripécias inventadas também estão nas outras obras do autor, como o não-me-morra-sem-ler A pior banda do mundo. Em A agência de viagens Lemming, um homem aborrecido chega em um balcão de viagens e é apresentado a um mundo (no sentido lato) de opções.
Seja a cidade famosa por seus 3 mil urinóis; seja a localidade sem prédios, pois todos os habitantes sofrem de vertigem – o que abre espaço pra uma citação atravessada de Kierkegaard – o mapa de Fernandes se expande ao limite da imaginação (se é que isso é limite).
Outro elemento batutíssimo são as citações intradiegéticas, tipo cartazes e placas de lojas como “Venus in Furs” ou “Cruzeiro Ulysses”, ou ainda outros absurdos: “Restaurante anoréxico” ou “bricolage para inéptos” [sic: o livro ainda não foi traduzido para Português do Brasil]. Os próprios paratextos do gibi já jogam a suspensão de descrença de um lado pro outro.
A ficcionalização intensa de um mundo bastante crível, mas com um ou dois elementos estranhos ao conjunto, eis o cerne do trabalho de Fernandes. Esse procedimento gera humor, estranhamento e deslumbramento tudo junto, pois cita sem avisar e avisa sem citar.
Álbum todo enrolado, equilibrado em tábuas de incertezas, que pode ser visitado logo ali na Costa Leminskadélica. Procure a Agência de viagens Lemming.
Bem legal, só faltou falar que é publicado pela Devir e está disponível para venda.
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Bem legal! Só faltou a Devir falar que foi publicado e está disponível para venda!
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