Conta a lenda que Elisabeth Báthory foi uma condessa húngara responsável por mais de 600 mortes. Digo “lenda” porque (de acordo com uma rápida pesquisa particular) há historiadores que propõem outras hipóteses, a principal sendo a que Isabel foi uma vítima política. A HQ do autor português Nunsky, não trata da segunda hipótese.
Com desenhos em preto e branco (e alguns tons de cinza) com hachuras espessas que, em certos momentos, remetem a Charles Burns, Nunksy, até então inédito no Brasil, reconta a vida da condessa como a encarnação de um dos ápices da crueldade. Ela não apenas torturava os serviçais e moradores de vilas próximas por prazer, mas para manter-se jovem, banhando-se no sangue de suas escravas. Quando não havia mais escravas para serem sacrificadas, ela ordenou que cúmplices sequestrassem moças de vilas próximas.
É uma HQ de terror consistente e competente que mostra diversas mortes de serviçais, um compilado de assassinatos dignos de um slasher com Freddy ou Chucky (mas bem menos raso, é claro).
No gibi, a crueldade de Isabel é indiscutível, mas é inevitável pensar, depois de pesquisar o nome dela (e a pesquisa não apenas enriquece o gibi, mas é interessantíssima por si só), que Isabel pode ter sido vítima de um golpe político. Na época de seu aprisionamento (ela foi presa dentro de uma parede) ela era dona de muitas terras, e muitas confissões das testemunhas foram obtidas com tortura. Independente do que aconteceu de verdade, Erzébet entra para o longo e polêmico hall de obras sobre assassinos em série.

É muito justo destacar aqui o papel da editora Zarabatana. Mesmo com poucos lançamentos anuais, são sempre obras relevantes (no catálogo estão autores como Lucas Varela, Salvador Sanz, Ignacio Minaverry, Calpurnio) e a editora é uma das poucas que tem investido em obras de terror (Como Esqueleto: O museu esquecido e Vigor Mortis, por exemplo). Espero que continue assim e traga cada vez mais obras desse gênero para o Brasil.