Oi, gente. Tempinho que não apareço por aqui, né? Pois é, como avisou o Valter, estamos em licença maternidade, Camarada Zine, herdeiro deste site, é prioridade número todos no momento… Mas aí decidi aproveitar que ele tá ali tranquilinho experimentando sons e o gosto de tudo ao seu alcance para deixar aqui algumas orelhas, posfácios e prefácios que curti escrever. Toda vez que recebo um convite desses fico toda prosa, na confiança que a pessoa deposita na minha leitura, na possibilidade de fazer uma análise que seja leve para ajudar o futuro leitor a sacar melhor o livro.
Serão as versões SEM CORTES de editor, a partir dos arquivos pessoais.
O primeiro da série é o último, que fiz, dessa vez, em companhia do Lielson Zeni, companheiro nesse site e na criação do Camarada. Aproveito para avisar que o lançamento é amanhã, na Ugra.

Vai aí, sem mais delongas, que acho que Zine tá com fome.
Beto & o Interlux, de Sebastião Dojcsar – Revista Pé-de-Cabra, 2023
A gente conheceu o Sebastião na Ugra. O Douglas (ou foi a Dani?) Utescher falaram que a gente devia conversar com aquele cara que tinha começado a publicar um zine, Corpo de tinta. Era uma trama urbana de ficção científica em três partes. Sim, o camarada já começa metendo logo uma trilogia! E, diferentemente da maior parte dos quadrinistas iniciantes, o Sebastião FEZ os três zines. Isso já fala algo sobre ele.
O que impressionou a gente naquele trabalho – e que também aparece neste Beto & o Interlux – é a quadrinização, o trato com o miúdo e com o grande da linguagem dos quadrinhos. Se naquele trabalho inicial ainda havia certo tatear de como usar a página, gerando uns espaços aleatórios (mas não menos interessantes), aqui chega um quadrinista que já experimentou algumas coisas e está mais seguro de por onde ir com seus desenhos.
Um tempo depois desse dia da Ugra, ele escreveu pra gente pra falar de seu PROJETO DE PESQUISA SOBRE QUADRINHOS (!!!). Sim, ele fez um trabalho sobre quadrinho alternativo e até mesmo apresentou no grupo de pesquisa de que fazemos parte, o GPOQT (Grupo de Pesquisa Oficinas de escrita, Quadrinhos e Tradução). Aliás, Sebastião – esse rapaz de sobrenome impronunciável – escreveu um belo panorama da cena contemporânea do quadrinho brasileiro, com um pouco da história que a fez surgir – inclusive, recomendamos a leitura.
Isso parece explicar a sofisticação gráfica de sua quadrinização em Beto & O Interlux. Toda a pesquisa do Sebastião não é apenas pra construção de um texto sobre quadrinhos, mas um processo autodidata de formação de um quadrinista. Ele parte de um contexto underground, dialoga com suas referências, em busca de algo próprio. A gente consegue ver neste livro Zimbres, Bona, Gerlach, Puiupo, Bello. Já os cenários parecem vir de como ele absorve e desenha o imaginário de Angeli e Laerte.

Não deixe o estilo simplificado de arte te enganar. Sebastião usa ângulos ousados, varia a grade de página, muda os estilos de montagem dos quadros. E a experimentação não é só no estruturante do quadrinho, mas também no aspecto narrativo. Há uma predileção pelo banal, por alongar as cenas, com passagens que qualquer manual de roteiro mandaria (incorretamente) tirar. A gente vê Beto acordando, cozinhando, ouvindo um sonzinho, tudo isso antes de a ação deslanchar. Tem até espaço pra uma lista de discos, pra que quem lê possa escolher com o personagem qual vai ser a compra. É uma cena que, alguns diriam, se alonga inutilmente, mas porque dar utilidade pra tudo nessa vida? E que bom que é assim. Outro tempo de narrativa, menos centrado na objetividade e mais dado, por que não, ao humano.
Mas não deixe nosso papo crítico de “ai, linguagem blábláblá” te fazer pensar que este livro é uma obra obscura e hermética. Além de tudo, talvez principalmente, é um gibi massa véio, sim. Ficção científica urbana, com bastante ação, mistério, personagens carismáticos, romance e planos mirabolantes. Uma leitura agradável, rápida e leve. A narrativa de Beto & O Interlux é PARÇA como o protagonista Beto: ela não te decepciona.
Ah, e vocês viram que o miserável do Sebastião só tem 15 anos de idade?*
Maria Clara Carneiro e Lielson Zeni
Editores do Balbúrdia, organizadores do Prêmio Grampo e fundadores do GPOQT
* Ele festejou seus 16 esses dias.

merci, ma chérie, c’est très sympa à lire, ton texte, et à voir, sa BD! bravo à vous
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