Esse foi um dos primeiros prefácios que eu fiz (as primeiras orelhas foram para o Stêvz, em seus dois livrinhos de poemas sobre a ordem das palavras – só não vou postar aqui porque são prefácios para poesia, mas você encontra os livros inteiros aqui e aqui).
Síncope, Aline Zouvi – Independente, 2017

Um dia a ansiedade quase me levou um dedo e aí tive dimensão de todo o mal de ser tesa. Aline Zouvi e eu partilhamos essa condição, dessa corda vibrante que, a qualquer vacilo ou um pouco mais de contato humano nos paralisa. Saber-se ansioso é um desejo contínuo de ser “como homens e mulheres, e não nós, os ávidos.” Parece que queremos demais, e temos medo de querer. E fica aí a tensão que quebra os sentidos, jogando a energia que devia estar no presente para notas isoladas na pauta de música atonal que é nossa vivência.
Zouvi foi encontrar logo nessa palavra musical a ambiguidade necessária para tratar a ansiedade. Distribui as páginas num aparente desiquilíbrio que, na verdade, é o que dá ritmo à história. Mas é pela vibração das cores que pressinto, sinestesicamente, as idas e vindas entre angústia e euforia – as síncopes geradas pela ansiedade.
Fico feliz em dizer que conheci a autora quando ela escondia de todos o talento, ainda mais feliz por estar acompanhando sua saída desse armário embutido de imagem e escrita. Muito mais feliz, por introduzi-la nessa narrativa delicada e bonita. Seja bem-vindo à Síncope
