Quando o mundo inteiro parece doido e sem saída, a gente pode se desesperar ou esbravejar ou atacar ou quem sabe procurar refúgio em algo de sutil que a gente inventa pra viver um pouco melhor. A Jéssica Groke vai por essa última opção com sua estreia em Me Leve Quando Sair.
A capa colorida pode enganar à primeira vista, por isso sugiro virar a revista e ver a quarta capa; ou melhor, abre logo e dá aquela olhada dentro. A Jéssica desenha com detalhes, tipo, muitos detalhes, parece coisa meio obsessiva até, menos nas primeiras páginas.
Ah, essas primeiras páginas reservam um truque de surpresa visual muito bem montado: são 5 páginas com desenhos quase iguais, figuras humanas no centro da página branca, até virarmos a a sexta e sétima, que é dupla, entupida de vegetação e caminhos dos dois personagens principais, que são a Jéssica e seu irmão Lucas.
A partir daí, uma viagem a Paraty, é o centro de idas e vindas de memórias afetivas familiares da Jéssica. Pode até não ser pensado (não sei), mas acho adorável que no quadrinho que bota a quadrinista Jéssica Groke no mundo a gente veja o nascimento da personagem que espelha a Jéssica Real Oficial.
Me Leve Quando Sair é isso, são todas essas coisas que passamos e voltamos, mas são simples e bonitas. É quadrinho que no meio de um mundo em reviravolta, me leva pra ver uma cachoeira com dois irmãos que são dão bem (até se desentendem, mas logo fica tudo certo), que não correm risco, não é uma aventura de monstro ou ataques realistas de pessoas más realistas. Não tem anticlímax, clímax e essas ordens de roteiro de cinema que o povo gosta de dizer que é ordem também pra fazer quadrinho.
Tem uma coisa muito melhor, que é um cantinho terno e acolhedor feito a lápis.