[Vem Comigo] Shirô

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Em 2010, Danylo Beyruth publicou, pela editora Zarabatana, o álbum Bando de Dois. Era a história dos dois únicos cangaceiros que sobreviveram ao extermínio de seu bando, promovido pelas forças policiais, e que se lançavam em uma missão suicida para recuperar as cabeças de seus colegas da guarda das autoridades. Contando uma história de cangaceiros no nordeste a partir de diversos elementos do gênero western, Bando de Dois foi considerado por muitos o melhor quadrinho brasileiro de 2010.

Desde então, ainda que tenha feito outros trabalhos, como a série de álbuns do Astronauta para as Graphic MSP e a história de São Jorge guerreiro, esse novo álbum Shirô, pela editora Darkside, é o que parece se aproximar mais e dar continuidade à proposta de Bando de Dois.

No lugar do western, entra a Yakuza, a máfia japonesa. Beyruth cria uma trama de intrigas que vai se consolidar com sequências de ação e aventura usando novamente elementos de filmes e séries do gênero, mas trazendo tudo isso para o Brasil contemporâneo. Tudo gira em torno de dois personagens, Akemi e Shirô. A primeira é uma jovem que foi criada pelo avô e que, após a morte dele, acaba descobrindo uma herança que a vincula com a Yakuza. Shirô é encontrado desfigurado, desmemoriado e portando uma espada japonesa. Os eventos acabam unindo os dois, com Shirô tornando-se uma espécie de guarda-costas de Akemi.

Shirô, assim como Bando de Dois, é uma obra que chama a atenção pelo modo como trabalha os gêneros. Mas além de trazer a ação e narrativa das histórias de máfia japonesa para o cenário brasileiro, Shirô também mistura formatos e tipos de quadrinhos.

Shirô tem muito em comum com álbuns europeus, como a série XIII, de Jean Van Hamme e William Vance. Não se trata só do protagonista amnésico com impressionantes habilidades de combate (alguém lembra também de Jason Bourne?), mas da forma de narrar a ação e o suspense. Shirô é uma narrativa clássica de aventura, desenhada dentro de um layout tradicional, funcional.

Mas, ao mesmo tempo em que lembra muito a forma narrativa dos álbuns europeus, também extrapola o limite de páginas e o próprio formato do álbum. São 181 páginas de quadrinhos nas quais a trama se desenvolve sem pressa, de maneira orgânica, com espaço para cenas de ação e de diálogo. O formato e a quantidade de páginas a relacionam com os livros de quadrinhos como Mensur ou Asterios Polyp, enquanto que a narrativa e a temática a aproximam dos trabalhos clássicos dos quadrinhos de aventura, como a tradição dos álbuns europeus.

Trata-se de um livro bem feito e muito caprichado. Assim como Bando de Dois deixava a impressão de se ter “assistido” a um western no cangaço, Shirô dá um gostinho do que seria um filme de John Woo rodado em São Paulo. Essa brincadeira com os gêneros e sua transposição para nossa realidade é que dão todo um sabor especial pra essa obra.

Vale lembrar que o livro foi enviado pela editora para Liber Paz e que Lielson Zeni, membro deste site, trabalha na Darkside.

Publicado por liberpaz

Desenho, rabisco, escrevinho.

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