Mais um quadrinho de terror! Espere a sua vez na fila, que logo você se senta na cadeira do barbeiro e ganha o seu corte em Jugular, de Gabriel Califa e Daniel Franco (Independente, 2019).
Outro material que veio a luz via financiamento coletivo da plataforma Catarse que, há alguns anos, tem sido um formato de publicação bastante funcional para os quadrinhos, tanto independentes, quanto para editoras (há casos como da Editora 85 ou Figura, que baseiam seu modelo de negócios no crowdfunding como espécie de pré-venda, em que o livro já vai pra gráfica com algum dinheiro coletado e vendas garantidas).
Claro que nem tudo é maneirão no Catarse, pois quem apoia não tem qualquer segurança de que o material vai ser entregue (normalmente é, mas tem alguns casos de parte de recompensas e mesmo livros que não chegaram aos financiadores). Mas corta essa, vamos pra Jugular.
Gabriel Califa escreveu e Daniel Franco desenharam história curta e dinâmica, em uma cena em sequência, com a interrupção para flashback. A arte PB funciona muito bem pra proposta e a inclusão de uma cor, o vermelho, traz elemento gráfico bastante interessante. E sem palavras, porque o quadrinho é todo mudo.
A trama é um cliente que chega na barbearia quando ela está fechando; insiste e é atendido. Quando ele está sentado na cadeira, o barbeiro vê a tatuagem no pescoço dele, a rosa vermelha, o que desencadeia a memória (e o flashback). Sem querer dar muitos detalhes, acho essa parte que mostra a motivação da história, o ponto baixo da narrativa (se trata de algo já visto tantas vezes, que me parece gasto e dá uma patinada no todo).
Daí em diante, surge um artifício narrativo bastante esperto que os autores lançam mão pra encaminhar pro desfecho (tudo falado de modo genérico pra não dar detalhes e tirar a surpresa de quem lê). Gosto que as decisões são todas da parte do gráfico e do visual, como uso de espaço da página, dos traços e do vermelho.
Depois de ler Jugular, sempre que o barbeiro catar a navalha pra “aparar as costeletas”, vou ficar gelado.