[Vem Comigo] Robô Esmaga

Quadrinhos feitos em São José dos Pinhais, minha gente. É lá que mora Alexandre Lourenço, autor de Robô Esmaga. Ele costumava frisar isso nos fanzines e blog: “quadrinhos feitos em São José dos Pinhais”. Escrevia discretamente às margens da folha.

Nunca entendi por que ele escrevia isso. Quer dizer, pra mim faz sentido alguém escrever “quadrinhos feitos em São Paulo”, “quadrinhos feitos em Belo Horizonte”, mas tinha algo de intrigante em “quadrinhos feitos em São José dos Pinhais”. Uma quebra de expectativas, uma surpresa,  uma coisa que pareceu (pra mim) um detalhe singular.

Lógico que isso é bem subjetivo, pode ser uma pira só minha, mas acho que posso usar isso pra ilustrar o que o Lourenço faz nos quadrinhos dele. Você olha e vê de primeira alguma coisa fácil de entender. Uma historinha, personagens, falas. Daí você para pra pensar e começa a perceber os detalhes. E daí encontra algo singular, familiar, intrigante. Algo que te chama a atenção. Pode ser o “quadrinhos feitos em São José dos Pinhais” em letras miúdas discretamente num cantinho, pode ser um balão vermelho minúsculo,  pode ser uma coisa que não está escrita, mas ainda assim pode ser lida, se você olhar com atenção.

Robô Esmaga reúne uma coletânea de tiras (?) e pequenas histórias em quadrinhos que o Lourenço originalmente publicou em seu site. Uma das coisas que achei legais na publicação da JBC é observar como foram feitas as adaptações de leitura do formato web para o formato impresso. Em seu site, Lourenço valia-se muito da utilização da barra de rolagem e da leitura proporcionada pelo “scroll” da página para compor seus espaços e ritmos. Na versão impressa, podemos perceber como a diagramação se alterna, fazendo o leitor folhear o livro ora na horizontal, ora na vertical. Acho muito interessante comparar essas fruições.

Lourenço sabe explorar as características de seu desenho e compõe quadrinhos muito bacanas, em que a característica gráfica das linhas e proporções colabora muito na construção de um texto que faz sorrir e isso nem sempre é humor.