[Vem comigo] Cadeado

O décimo número da simpática coleção da Ugra Press traz um conto de terror de Juscelino Neco.

Não sei bem se é terror TERROR, na verdade. As duas obras anteriores de Juscelino Neco Parafusos, zumbis e monstros do espaço (Veneta, 2013) e Matadouro de unicórnios (Veneta, 2016) já mesclava terror com algo de humor e muitas referências a outras obras que também lidam com terror como um dos seus elementos.

Em Cadeado, essa alquimia da mistura do terror segue, mas sem os mesmos elementos dos álbuns anteriores (ressalva: não pense que Parafusos… e Matadouro… são livros semelhantes. não são). Dessa vez, Juscelino Neco opta pela narrativa policial de crime com bastante suspense.

Também não tem aquela “locurage”de zumbi ou de um assassino por motivos banais. É um quadrinho circunspecto e direto.

cadeado

A narrativa de Neco divide as páginas A6 ao meio, com um quadro (sem fio de requadro) de memória em cima e uma sequência culinária. Essa lógica é interrompida poucas vezes por páginas inteiras. Em uma dessas interrupções, as duas linhas se encontram e apresentam o desfecho poucas páginas adiante.

Há um texto entre essas duas narrações, que parece solto das imagens, embora pareça se ligar às vezes com o flashback. Aliás, o texto se seguraria como narrativa sozinho, mas há o milagre dos quadrinhos: os desenhos lidos com esse texto trazem um detalhamento da história que não pode ser entendido só pela arte ou só pelas palavras.

Boa parte dos desenhos são de objetos e closes em partes do corpo, há poucas faces, como se Neco não quisesse que o leitor encontrasse empatia ou repúdio no personagem narrador. Sobra pouco pro leitor se agarrar sem isso.

Sobra uma história cruel, direta, curta e intensa.

Gosto também da violência implícita: a palavra “violento” é usada, mãos fortes que agarram e objetos quebrados são mostrados, mas não há corpos explodindo aqui.

Cadeado fala de uma violência e de uma crueldade subterrânea, que nem sempre a gente vê, mas sabe que está por aí. Talvez embaixo da sua própria pele.

 

Zine enviado gentilmente pela Ugra

Publicado por lielson

Francisco Beltrão (1980) - Curitiba (2000) - São Paulo (2011) - Salvador (2017) - São Gonçalo (2018) - Santa Maria (2019).

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