O álbum nacional O Segredo de Baba Ganush (Zarabatana, 2018), de Caio Yo, foi contemplado com o incentivo a cultura do PROAC SP e traz uma história de mistério e terror centrada no titeriteiro Ganush, que manipula um boneco assustador, e de seu ajudante de palco, o menino Pichoux.
Caio Yo entrega uma boa história de suspense, com segredos revelados só lá no final (como o próprio nome diz), com trama que entrega o que promete, sem prometer demais. Há um ou outro momento em que se superqualifica o sofrimento do personagem (sobretudo, quando mostra Ganush criança), beirando o exagero, porém, por mais que eu não goste do recurso, ele está calçado num bom porquê – já explico.
Há duas coisas que particularmente me chamam a atenção neste livro: a arte de Yo e o tom fabulístico. Primeiro, ao segundo deles.
É o tom de fábula que permite, por exemplo, exagerar no sofrimento de Ganush. Também é esse tom da história que se passa na Europa que existe na mente dos leitores de histórias de terror e de aventura. Esse tipo de cenário rapidamente aciona o depósito de lembranças de ficção e tudo que isso traz consigo: florestas misteriosas, castelos de ricos burgueses, artistas em suas carrocinhas por estradas rodeadas de desfiladeiros. E aqui cabe falar da arte de Caio Yo.
O desenho à lápis, finalizado com nanquim e colorido na aquarela traz um processo mais manual, mais próximo de algo que pode se tornar mágico, pois o truque é toda da mão e a matéria saiu de materiais manipulados pelo quadrinista. As cores pálidas, o traço arredondado e amigável parecem trazer personagens de história infantil, que foram parar na fábula errada. O Segredo de Baba Ganush é obscuro, cruel e mau, em forma palpável e corrompedora. E o que poderia ser uma história maniqueista com personagens ironicamente infantis, graças ao fabulesco, ganha força ancestral.
Mais que uma história aterrorizante, é uma história que se mostra como particularmente de imaginário europeu e se entrega como uma fábula de interesse universal.
Abaixo, vídeo com algumas artes do livro.
E ainda por cima tem uma audiodescrição no YouTube.
Obrigado à Zarabatana Books pelo envio do livro.