[Vem Comigo] The Sheriff of Babylon – Deluxe Edition

The Sheriff of Babylon – Deluxe Edition (DC/Vertigo, 2018), de Tom King e Mich Gerards é uma história de investigação policial com o ponto de diferença no cenário escolhido para contá-la: trata-se do Iraque ocupado pelas tropas dos Estados Unidos. O leitor acompanha Chris Henry, responsável por treinar a polícia iraquiana para cuidar do país assim que o exército ianque der no pé, mas um assassinato acontece. O material já saiu por aqui em dois volumes, O Xerife da Babilônia v.1: Bang! Bang! Bang! (Panini, 2017, tradução de Levi trindade) e O Xerife da Babilônia v.2: Pow! Pow! Pow! (Panini, 2017, tradução de Levi Trindade).

A série The Sheriff of Babylon foi publicada seriada em 12 edições entre 2015 e 2017 e depois compilada em encadernados, como é de praxe no mercado norte-americano. A série foi encarada como um retorno aos bons tempos da Vertigo e pôs atenção no nome do roteirista Tom King, que tem produzido trabalhos elogiados como Visão (publicado aqui em dois encadernados pela Panini em 2018) e Senhor Milagre (também saiu pela Panini, um volume em 2018 e um este ano).

King trabalhou na CIA por sete anos e parece que parte de suas experiências de agente do governo estado-unidense foram usadas para estruturar a história de Chris Henry. O descuido, o desinteresse, a crueldade e ambição convivem de farda pelas ruas de Bagdá com pequenos gestos de bondade, empatia e idealismo. O protagonista é claramente alguém deslocado: ele é um ianque invasor, branco, de país cristão e dominador em meio a iraquianos de casa destruídas, árabes, islâmicos e dominados; entre os norte-americanos, ele não é nem militar nem mercenário, mas um policial que ajuda no treinamento de cidadãos locais para formar a polícia iraquiana que vai manter a paz e o controle quando os soldados dos EUA partirem.

Vale ressaltar como a frase anterior mostra um viés colonialista: o exército americano invade o país, o subjuga, mata resistentes, enche sua rua de soldados e de mercenários e ainda está preocupado como os iraquianos manterão a paz quando eles se forem. Mas é possível, dentro dessa perspectiva impositiva e algo missionária, ser bem intencionado e tentar fazer o melhor para aquelas pessoas que vivem em Bagdá. E é justamente esse o ponto de Chris Henry.

Esse personagem deslocado é também inadequado para a zona de conflito pela forma como age e pensa. Longe de ser um revolucionário anarquista, Chris Henry se esforça para dialogar e entender os locais, enquanto encontra outras pessoas que já encaram com banalidade explosões, tiroteios e destruição.

Quando um dos homens que treina é assassinado, Chris parte para a investigação que é de nenhuma prioridade para o comando do exército dos EUA e nem mesmo de grande interesse para os próprios iraquianos. Afinal, pessoas assassinadas é uma constante na zona de combate que se tornou Bagdá.

Apesar de ser policial e trabalhar para o exército, Chris parece não aceitar naturalizar a situação que enfrenta e, em vários momentos se expõe (como no meu capítulo favorito da história, em que conversa madrugada adentro com a esposa de um iraquiano que acolheu e protege), embora muitas vezes, aja como o treinamento determina – nesses casos, pode ser lido nele o arrependimento logo depois da ação. Não é possível comentar mais sem entrar em detalhes da história que podem ser interessantes de se descobrir na leitura.

A arte de Mitch Gerards é realista, de cores chapadas e de bastante detalhes nos traços. O estilo dele sedimenta ainda mais o peso do realismo da história que, se não é fatual, tem todo o jeito de que acontecer. O fator realidade é determinante para calçar essa trama de investigação policial que caminha pela espionagem também. É com a densidade realista que o sofrimento dos personagens ganha destaque aos nossos olhos e nós, leitores, não banalizamos os horrores daquela guerra e, desse modo, nos aproximamos da visão de mundo de Chris.

Assim como o escritor Kurt Vonnegut (leiam, leiam! Vou considerar um favor pessoal se lerem um livro dele), King e Gerards não glorificam a guerra e o sacrifício das vidas perdidas no combate. E essas são as únicas histórias de guerra que quero ler.

Publicado por lielson

Francisco Beltrão (1980) - Curitiba (2000) - São Paulo (2011) - Salvador (2017) - São Gonçalo (2018) - Santa Maria (2019).

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