[Vem Comigo] Vagabundos do espaço vol. 1

Vagabundos do Espaço – volume 1, de Raphael Salimena (Draco, 2018) é um daqueles quadrinhos que só poderiam ser feitos pelo Salimena, pois ele usa e apresenta tanta referência tão típica dele,  que na hora o leitor já sabe o que vem. Essas tais referências podem ser conhecidas pelo seu Twitter ou por sua série de tiras, “Linha do Trem” (coletadas pela Draco em 2017 em Linha do Trem: The Best Of).

Ainda bem que isso é um texto, não uma apresentação cara a cara com o Raphael Salimena, porque é constrangedor (para mim) a quantidade de coisa que eu gosto em Vagabundos do Espaço. Sério mesmo.

Todo mundo sempre fala do desenho do Salimena, que é muito habilidoso, que é muito detalhista e tal. Bem, concordo com tudo isso e acrescento ainda que há certa dinâmica no traço do camarada que é muito particular, algo que une as expressões de poucos traços em meio a cenários recheados de informação visual. E aqui nessa dinâmica que a coisa podia se perder e ir pras cucuias, Salimena consegue manter certa hierarquia entre a narração e a mostração. Ao mesmo tempo que o leitor é conduzido a correr pela ação da página, a ilustração chama seu olho para dar uma descansada e ver em detalhe aqueles potes gigantes de vidro, como da página abaixo. Esse é um equilíbrio muito precioso em autores de traço vistoso que querem narrar em quadrinhos.

A finalização da arte, seja na garibadinha do traço ou seja na cor, vai na mesma direção do desenho. As cores aliás, seriam destaque nesse livro se tudo nesse livro não merecesse destaque. Porém, vale mesmo dar uma sublinhada nessa questão, pois muita gente se empolga nos degradês ou nos chapados e entregam mais do mesmo ou, pior, breguice em cores pulsantes. E não é o caso aqui, em que as cores ajudam a localizar os personagens e, em certa medida, é outra mão que ajuda que conduz o leitor a passear pela página.

O letreiramento é um elemento menos comentado do que merecia, mas poderoso no resultado final de uma história em quadrinhos. E, de novo, Salimena acerta a mão (não falei que era constrangedor a quantidade de coisa que eu gosto neste material?). Os balões se deformam e reformam sutilmente, de acordo com a necessidade de ênfase do diálogo, e as letras crescem ou diminuem pra modular as vozes e variar os tons.

Além de toda a parte técnica com execução eficiente, Salimena ainda traz uma história engraçada, divertida, bem humorada, de trama farsesca. Os diálogos embalam o absurdo dos acontecimentos, carregados sempre pelas piadas no ponto certo.

Há uma história longa e cheia de ações plantadas para colher logo ali adiante (para se ter uma base, esse volume 1 é apenas para juntar os três personagens principais da história), mas que não pesa no leitor, e não exige que ele carregue sua memória com uma GROSA de eventos. Tudo acontece no seu ritmo, com leveza, mas nunca chegando perto da irrelevância.

Fica aí registrado minha rasgação de seda e minha torcida para que haja muitos volumes de Vagabundos do Espaço. E que eles saiam logo.

Publicado por lielson

Francisco Beltrão (1980) - Curitiba (2000) - São Paulo (2011) - Salvador (2017) - São Gonçalo (2018) - Santa Maria (2019).

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