Se você não leu, provavelmente ao menos já ouviu falar da graphic novel Retalhos (Blankets, no original), escrita e desenhada pelo Craig Thompson. Mas caso ela nunca tenha passado pelas suas vistas ou pelas suas mãos, trata-se de uma história autobiográfica que conta como o autor, criado numa cidade interiorana e religiosa, entra na adolescência, descobre o amor e passa a questionar a própria fé, suas visões de mundo e suas relações.

É um gibi de uma sensibilidade ímpar, verdadeiramente tocante. Thompson, artista de traço leve, por vezes compõe páginas complexas e impactantes. Uma das obras que mais guardo com carinho (e uma ótima opção pra emprestar àquelas pessoas que não são familiarizadas com os quadrinhos distantes do universo dos super-heróis). Lá fora, saiu em 2003, pela Top Shelf. Aqui no Brasil, chegou apenas em 2009, pela Companhia das Letras.
Mas na real, não é bem de Retalhos que quero falar. Mas da trilha sonora dela.
Outra coisa da qual você já tenha ouvido falar é dos saldões anuais da Top Shelf, em que a editora vendia uma porrada de quadrinhos bacanas, com preços entre US$ 1 e US$ 10. O frete pro Brasil encarecia um pouco, mas o lance era juntar uma galera e rachar o custo – ainda mais numa época em que o dólar valia pouco mais de R$ 2,50 (aiai, saudades). Foi aí que, além dos gibis, acabei esbarrando com um CD.
Trata-se de um álbum gravado pela banda Tracker, da cidade norte-americana de Portland; na capa, um desenho com os personagens de Retalhos e a inscrição: “gravações para a novela ilustrada Retalhos, por Craig Thompson”. Essas são intersecções sempre interessantes; e fiquei curiosa pra saber que tipo de som teria sido criado a partir da melancolia que perpassa toda a obra. Botei no carrinho. E não me arrependi.
São dez faixas instrumentais que podem ser descritas como uma mistura de low rock e dream pop – minha primeira referência seria mesmo o Explosions in the Sky. As músicas passeiam por momentos de delicadeza e ruído, invocando da calmaria à tensão, do êxtase à angústia: uma trilha que se encaixa perfeitamente à história que a inspirou, fazendo jus à obra com seus arranjos bem construídos e envolventes.
Mesmo que você ainda não tenha lido Retalhos, recomendo a audição – e mais ainda caso tenha. Dá pra sacar o som aqui.