[Vem comigo] O Parricídio

A dupla Rodrigo Qohen e Beeau Goméz tinha feito a coletânea de HQs curtas Acid Jazz, que já tinha me deixado curioso pelo próximo trabalho deles. E na Bienal de Quadrinhos de Curitiba eles lançaram O Parricídio

.

De vez em quando aparece um trabalho desses, que me faz pensar bem nas palavras antes de escrever o comentário. O Parricídio é uma obra de narrativa obscura. Ao menos pra mim é. Reli as 56 páginas algumas vezes, parei em uma outra passagem, me dediquei ao texto ali, me empenhei numa imagem lá.

Já digo logo que reler uma obra é um prazer pra mim e uma história em quadrinhos que me instiga a releitura já sai com pontinho extra (infelizmente não temos nota, então esses pontos vão se perder entre borboletas).

A arte de Beeau parte de um realismo e encontra um elemento deformador no meio do caminho e essa deformação é toda a graça da coisa.

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O texto do Rodrigo segue a estrada beatnik, com caronas a Roberto Piva (influência mais marcada) e poetas de versos longos de metáforas pouco prováveis.

Juntar isso diante com uma história de base freudiana, só podia dar em ruptura do óbvio, ainda que a custo da clareza. Mas quem disse que toda mensagem precisa ser clara e inconfundível? Essa incerteza que me guia pela página é a mesma incerteza que conduz o personagem Remi.

O Parricídio é quebrado com 3 títulos, sendo que o segundo me parece vir diretamente de desenho de observação de modelo. Se foi isso mesmo, acho muito massa o reaproveitamento de material na criação.

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Essa segunda parte me faz mudar a orientação do livro pra vertical, o que se mantém na terceira parte. Gosto também da distribuição do texto: balão de diálogo na primeira parte; sem texto na segunda; palavras integradas à arte na terceira (e aqui o texto é vertical e arte horizontal).

A síntese é lisérgica. O encontro de tudo gera uma obra muito estranha, muito torta e, exatamente por isso, muito interessante. Tipo O Albatroz, do Baudelaire (acho que Beeau e Rodrigo vão gostar dessa referência), que voa altivo, mas parece deformado ao convés do navio.

(meu valeuzão pros autores que me presentearam com a obra. Viu, deu certo: virou texto aqui no blog)

Publicado por lielson

Francisco Beltrão (1980) - Curitiba (2000) - São Paulo (2011) - Salvador (2017) - São Gonçalo (2018) - Santa Maria (2019).

2 comentários em “[Vem comigo] O Parricídio

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