Li o excelente Você é minha mãe?, da Alisson Bechdel, antes de ler Fun home. Eu já sabia da história, do tema, mas demorei mó tempão pra efetivamente ler o gibi.
Falha de caráter corrigida no começo deste ano e, no meio da leitura, já sabia que teria que reler o Você é minha mãe? Li pela primeira vez há muito tempo e, apesar de não ser obrigatória a sequência Fun home – Você é minha mãe?, tem muita informação sobre a autora (ambos são gibis biográficos) e o relacionamento dela com os pais, tema principal de cada obra, que se completam com as leituras dos dois trabalhos.
Na verdade, acho que a Bechdel vai tão fundo nas descrições e dissecações do que ela sentiu, a natureza destas relações, etc., que ainda vou reler um e reler o outro várias vezes, num ciclo que imagino que será longo para conseguir interpretar e pesquisar tudo o que tá encapsulado nos livros. E, ao meu entender, isso faz parte da graça das descobertas destas duas obras, são livros que se complementam em um ciclo, aliás, não só pelas informações contidas neles, mas pela forma como nós, os leitores, mudamos nossas percepções das cosias conforme o tempo passa, e acho que muita gente vai concordar que não é todo gibi que tem esse poder. É tipo assistir Exterminador do futuro, daí assistir o Exterminador do futuro 2, e quando você volta e revê o 1, percebe que o Arnie, quando vai na casa da primeira Sarah Connor (“Sarah Connor?” – “Yeah” BOOM!), passa com o carro de polícia por cima de um caminhão de brinquedo IGUALZINHO ao caminhão que o T-1000 usa pra perseguir o John Connor no primeiro ato do 2.
Fala aí, aposto que você nunca pensou que alguém ia usar Exterminador do futuro pra fazer um paralelo de um gibi da Bechdel, né? Coisas que você só encontra no Balbúrdia.
Enfim, neste momento, gosto mais do Fun home. Sei que esta, mais do que a maioria, é uma declaração fluida. Provavelmente vou pensar diferente quando reler Você é minha mãe?, mas, por ora, estou fascinado com Fun home.
Não consigo pensar agora num gibi tão honesto, tão visceral e, ao mesmo tempo, tão acadêmico. A Bechdel organiza as ideias com uma prática e viés quase de um ensaio acadêmico e, vou te falar, pra um cara que detesta a academia como eu, é um baita feito fazer isso sem deixar o gibi chato.
Fora isso, os personagens dela e do pai são incríveis, a incógnita em volta da morte do pai (não se preocupem, isso não é spoiler, ok?) tem o mérito de ser transmitido no gibi com a mesma aura de mistério que envolve até hoje o fato real, e a história é contada de forma tão fluida, mesmo com a cronologia “bagunçada”, que o clímax da relação dela com o pai (isso eu não vou contar) acontece num momento tão inesperado que é como se você fosse uma testemunha ocular do ocorrido. Tecnicamente, o leitor é, mas você entendeu.
Uma coisa bem bacana é que Fun home foi transformado em um musical Off-Broadway em 2013. Em 2015, aconteceu a estreia da peça na Broadway.
Ps – O nosso repórter Elson tem uma excelente resenha sobre Você é minha mãe? lá no Universo HQ. Vale dar um bizu.
Se você não leu, leia. Um dos melhores gibis que já li na vida.