Sexta-feira passada, dia 12 de julho, estive em Porto Alegre na Galeria Hipotética para conversar com a pesquisadora Larissa Becko e com o editor Fabiano Denardin sobre quadrinhos de terror e fãs. Larissa fez mestrado sobre fãs de super-heróis e envereda pelo doutorado com pesquisa que envolve fandom novamente; já Fabiano é editor da Panini, e trabalha principalmente com os lançamentos do selo Vertigo no Brasil; eu sou um interessado nesse papo todo e editor na DarkSide Books.
Vou escrever muito mais daquilo que eu comentei, porque me lembro melhor disso e ninguém pode me acusar de lhe atribuir palavras indevidas, apenas de lhe roubar o discurso. Consigo conviver melhor com a segunda acusação.
A conversa sem mediador seguiu por diversos assuntos, mas falamos, principalmente, do fim da marca Vertigo da DC Comics. A hipótese trazida pelo Fabiano (e aceita por nós na mesa) para o fim do selo seria que a editora quer apagar a importância de Karen Berger e desapegar da necessidade do trabalho dela, bem como da comparação com a Vertigo “com Berger” e “sem Berger”. Se você não tá ligado na importância da Berger, ela é a pessoa que criou o selo Vertigo e uma das mais importantes editoras de quadrinhos dos EUA (recomendo este texto lindo do Eduardo Nasi sobre a saída dela da DC em 2012). Aliás:
Larissa comentou como a Vertigo perde o sentido como selo ao ampliar tanto seu tipo de publicação, que deixou de ter algo reconhecível como “Vertigo”. Aproveitei o gancho pra comentar que os selos e as linhas editoriais da DarkSide funcionam bem e temos casos de leitores que colecionam apenas uma das linhas da editora – o que imagino aconteça pela diferença de tamanho dos modelos de negócios.
Comentamos também do aumento de publicações e quadrinhos focados no terror e palpitei que a maior parte delas mescla elementos de terror e seus cenários com elementos de outros gêneros e “estilos narrativos” (fui espertamente coberto nos deslizes pela pesquisadora Adriana Amaral na plateia e por Larissa e Fabiano na mesa).
Inevitavelmente, chegamos na crise livreira brasileira e no fator Amazon. Defendi que o problema que enfrentam Saraiva e Cultura tem mais a ver com erros de gestão do que propriamente pela estratégia predatória da Amazon. Fabiano foi mais contundente na crítica a Amazon e quase passei por defensor de Jeff Bezzos (aliás 2: o que você faria se fosse Jeff Bezzos?).
No fim, Larissa falou um pouco do projeto de quadrinização a partir de sua dissertação de mestrado, o Caçadores de Fãs.
A conversa com o público foi constante, sem separação do momento das perguntas, o que fez o evento todo acontecer de forma rápida. Quando a gente viu, já era hora de parar. Porém, caiu aquela chuva bem na hora de sair e aí esticamos mais um pouquinho a conversa.
Espero que a gente tenha mais dessas em breve.
Obrigado a Iriz e Fabiano (sócios da Hipotética) pela organização da parada, pela Larissa e ao Fabiano (de novo) pela conversa e aos presentes pela coragem de sair na sexta-feira, começo da noite, na iminência de chuva.