O músico Daniel Johnston morreu a poucas semanas atrás e, com certo atraso, presto uma rápida homenagem a seu lado quadrinista.
Funeral home
Going to that funeral home
Got me a coffin, shiny and black
I’m going to the funeral and I’m never coming back
A verdade é que sinto vontade de escrever brevemente sobre Daniel Johnston poucos dias depois de outro falecimento, o de um tio muito querido. Tio Carlos nunca ouviu Daniel Johnston, acho que nunca leu um quadrinho também, sequer desenhava; morou grande parte de sua vida em Francisco Beltrão, no interior do Paraná e gostava de música sertaneja de raiz que tocava com alguma habilidade no violão, mas não compunha. É que tenho impressão que cada um deles, Daniel e Carlos, viveram suas vidas como puderam (acho que meu tio foi mais feliz) e, cada um a seu modo, me deixou uma memória afetiva.
Música e quadrinhos sempre definiram Daniel Johnston, que ficou muito conhecido quando Kurt Cobain posou para a fotos de divulgação com a camiseta de um sapo cósmico com a frase “Hi how are you?”, ícone que representaria Daniel daí em diante.
Vou falar de forma muito ligeira e sem muita pesquisa, meio do jeito que Johnston gravou suas fitinhas na década de 1980, de improviso, com voz, teclado e violão (não vou cantar nem tocar nada). Quem quiser sacar mais do cara (e recomendo conhecer) procura o documentário The Devil and Daniel Johnston (Daniel Johnston: Loucuras de um gênio em português [é, eu sei]). E dá uma passeada pelos artigos do Consequence Of Sound, que tem cover, obituário, homenagens e de tudo um pouco. Tem aí essa seleta de canções dele também:
Daniel foi influência para boa parte do indie e noise dos EUA, como Sonic Youth, Yo La Tengo, Built To Spill (aqui tem algumas covers) e por causa da foto, se tornou mais conhecido pelo público.
Mas vamos falar de quadrinhos, e vamos começar pelo desenho. Vale lembrar que em algum ponto da vida Daniel desenvolveu problemas mentais de diversas ordens (a principal hipótese é que um ácido bateu errado), o que dificultou muito sua carreira musical e apresentações e tudo mais (ele cancelou sua vinda ao Brasil em 2013 pouco antes do embarque; conseguiu vir alguns meses depois e parece ter feito um daqueles shows da vida de quem esteve lá).
É possível notar em seus desenhos a arte comum em pessoas com esquizofrenia. Johnston desenhava bastante e era razoavelmente obcecado por Gasparzinho e Capitão América.
E tem mais algumas artes aqui.
Tá, massa mas só porque você gosta do cara e ele desenha personagens de quadrinhos não quer dizer que ele faz quadrinhos, né, Lz? Correto, mas ele fez quadrinhos, sim: o livro Space Ducks: An Infinite Comic Book of Musical Greatness saiu em 2012, pela Boom e hoje é comercializado pela Simon & Shuster.
Teve até disco pra acompanhar o livro, entupido de músicas do Johnston, claro, mas também com presença de Unknown Mortal Orchestra e Eleanor Friedberger. A história tem mesmo a ver com Johnston e suas obsessões e aqui vão algumas páginas pra dar uma ideia de como o quadrinho é:
Tem mais algumas páginas aqui.
O coração de Daniel Johnston falhou em 11 de setembro de 2019. Até lá, ele desenhou, sofreu e fez canções e, espero, que mesmo com todos os seus problemas, tenha vivido uma boa vida. Nunca consegui ver um show dele; não verei; meu tio foi atacado por um câncer avassalador e em poucas semanas saiu da vida para as minhas memórias mais queridas.
Dropped his last dime in a wishing well
But he was hoping to close and then he fell
Now he’s Casper the Friendly Ghost
That he was nothing but a lazy bum, but
Goodbye to them he had to go
Now he’s Casper the Friendly Ghost
You can’t buy no respect like the librarian said, but
Everybody respects the dead, they
Love a friendly ghost
As we were mean to him but he never burned
Just singing, “love lives forever!”
Thank you, Casper the Friendly Ghost
Thank you, Casper the Friendly Ghost