
Há muito tempo gostaria de escrever sobre a Claire Bretécher. Pena conseguir apenas hoje, dia da morte da autora, aos 79 anos. Bretécher, uma grande socióloga, segundo Roland Barthes, descrevia a hipocrisia burguesa e seu tédio. Começou a fazer quadrinhos nos anos 1960, tendo participado da Pilote de René Goscinny, e fundado a Écho des Savanes com outros autores da primeira revista, jovens cansados do editor em cima do muro.
Além de ter escrito a vida de Santa Teresa D’Ávila em quadrinhos (na verdade uma série cômica sobre a santa), suas séries mais famosas foram Les Frustrés, em que apareciam em geral famílias e amigos discutindo falsas amenidades, e Agrippine, uma adolescente… adolescente, “sem papas na língua”.

Aquele humor ácido e cheio de tédio: ela respondia secamente em entrevistas, que detestava. Não fazia a mínima questão de agradar. E seus personagens eram um tanto assim.
Lembro de algumas páginas de um tribunal que julgava toda uma família. As maiores atrocidades e perversidades cometidas, mas tudo hipocritamente bem justificado pelas relações estabelecidas.
No Brasil, aparentemente só teve essa edição da heróica Marca de Fantasia (obrigada, Dandara, pela lembrança!). Hora de uma edição antológica?
(Achei, no entanto, um livro sobre ela em português!)