[Balbúrdia Café] Dia do Quadrinho Nacional e dia da Visibilidade Trans

Tira de Laerte

Na última segunda-feira, 31 de janeiro, participamos da 259ª edição do podcast ao vivo Primeiro Café, apresentado por Lucas Rohan. Segue o texto que Lielson e eu bolamos para os assinantes do correio eletrônico diário do programa, agora com IMAGENS.

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Janeiro tem: dia da Visibilidade Trans (29) e dia do Quadrinho Nacional (30)

O dia do quadrinho nacional – 30 de janeiro – celebra a publicação de “As aventuras de Nhô Quim”, de Angelo Agostini, considerado por alguns como a primeira história em quadrinhos publicada em terras brasileiras, em 1869. Mas janeiro também é o mês da Visibilidade Trans (como bem lembrou o nosso colega Edu Peres) e a 2ª coluna do Café Balbúrdia celebra artistas transfemininos, transmasculinas e não-bináries brasileirus (veja a primeira aqui).

5 livros em quadrinhos de artistas trans:

1. Então você quer escrever personagens trans? (autoedição, 2021)

Esse pequeno manual sobre escrita de personagens trans, dirigido ao público cis heterossexual ou LGBTQIA+, explica como funciona a narrativa, a ficção. É importante que exista cada vez mais personagens trans nas ficções, e Diana nos pergunta o porquê, nos indica como. O livro ainda conta com uma lista de artistas trans.

No programa, comentamos rapidamente do processo de elaboração de Lovistori (Brasa, 2021) roteiro de Lobo, desenho de Alcimar Frazão e edição de Lielson Zeni, cuja a protagonista, Sereia, é uma travesti que exerce trabalho sexual. O livro tem posfácio de Priscila Fróes e Monique Prada, que foram consultoras da equipe de criação.

2. Cartas para ninguém (3ª ed., Padê Editorial, 2021), de Diana Salu (@diana.salu)

– livros em promoção até hoje (03 de fevereiro), entrevista dela por Gabriela Güllich para o Mina de HQ;

Quadrinhos poéticos, poesia de si, autoficção, autodescobertas. Livro-arte da Diana. E ainda tem carta de Amara Moira para Diana.

Trecho de Cartas para ninguém

3. Manual do Minotauro (Companhia das Letras, 2021), de Laerte Coutinho (@laerteminotaura)

–  texto aqui no Balbúrdia sobre ela e suas personagens travestis;

Bom, eu não me canso de escrever sobre Laerte. Aí no post linkado, comento, justamente, o lançamento do Manual.

Laerte mandou uma dica no programa também!

4. Kit gay: atividades lúdicas para toda a família! (Veneta, 2021), de Kael Vitorelo (@vitorelo.art)

– leia elu: “Por que um kit gay?”;

E veja também a live de lançamento, em que Ramon Vitral entrevista Vitorelo.

5. Monstrans (autoedição/vencedor do Rumos Itaú Cultural, 2021), de Lino Arruda (monstrans_hq). 

Outres artistas trans para seguir: Ivo Puipo, Alice Pereira, Luiza Lemos e a plataforma Gato da Bota, criada pelo editor e quadrinista Cecil Silveira.

+dicas de obras de ou com artistas trans:

O romance O parque das irmãs magníficas, de Camila Sosa Villada (Planeta, 2021, tradução de Joca Reiners Terron).

Entre travestis transparentes ou de cabeça erguida, mulheres-passarinho, lobiscates e Homens sem Cabeça, Camila Sosa Villada conta sua história e de suas irmãs magníficas.

Mas as travestis cachorronas do Parque Sarmiento da cidade de Córdoba escutam muito além de qualquer humano comum. Escutam o chamado da Tia Encarna porque farejam o medo no ar. E ficam alertas, a pele arrepiada, os pelos eriçados, as brânquias abertas, os rostos tensos.

Villada, p. 20

os relatos Meu nome é Amanda (Fábrica 231, 2016) da Mandy Candy 

(Autobiografia escrita com a ajuda de um ghost writer, Lielson Zeni, que organizou a escrita de Amanda a partir de seus textos, seus vídeos e voz). Mandy Candy, youtuber de sucesso, conta suas memórias de infância, seu processo de entendimento como pessoa trans, como foi sua transição, como é morar fora do Brasil, entre diversas outras experiências.

Testo Junkie (N-1 edições, 2018, tradução Maria Paula Gurgel Ribeiro) de Paul B. Preciado

Mais conhecido por seu Manifesto contrassexual, em que anuncia a abolição das relações de gênero ancoradas apenas a genitálias (afinal, o corpo atual é pode ser perpassado por próteses, hormônios e inúmeras transformações biológicas), esse livro reúne ensaios críticos e autobiográficos de Preciado.

Espalho gel sobre os ombros. Primeiro instante: sensação de um toque sobre a pele. Esta sensação se transforma em frio e depois desaparece. Então, nada acontece durante um ou dois dias. Nada. À espera. Depois se instala aos poucos uma lucidez extraordinária da mente, acompanhada de uma explosão de vontade de trepar, caminhar, sair, atravessar a cidade inteira. Este é o ponto culminante em que se manifesta a força espiritual da testosterona misturada ao meu sangue.

Preciado, p. 25

– Um filme: Tangerine, de Sean S. Baker, 2015

Vimos o filme após assistir o curso da Alice Marcone, sobre a construção de personagens trans, em que ela explica como as personagens trans são quase sempre planas, sem um desenvolvimento ao longo da narrativa que aponte para transformação, mudança. E, também, como suas motivações são quase sempre as mesmas: se submeter a uma cirurgia de redesignação de gênero. Tangerine é indicado por Alice como um dos poucos filmes em que vemos personagens trans esféricas, em processo de transformação e complexas.

– Uma série: Manhãs de setembro, Luís Pinheiro, Amazon Prime, 2021

A série, que vai para a sua segunda temporada em breve, tem Liniker no papel da protagonista Cassandra, uma entregadora de aplicativo e apaixonada por Vanusa. Uma história sobre família e amor, com grande elenco (Linn da Quebrada, Karine Teles, Elisa Lucinda, Clodd Dias, Thiago Aquino, Paulo Miklos e Gero Camilo), cinco episódios, roteiro de Alice Marcone, Carla Meirelles, Marcelo Montenegro e Josefina Trotta.


– Um evento: a POCCon, presencial, em São Paulo, em junho de 2022

A POCCon já se estabeleceu como uma feira importante para visibilidade de pessoas LGBTQIA+. O programa é voltar à presencialidade em junho. Na torcida, e lembrando que as inscrições para artistas está aberta até domingo 6 de fevereiro!

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Cartaz da próxima POCCon, por Danverdura

Conversamos com Mário César, um dos organizadores do evento, no Balbúrdia em debate (6):


– Um curso: Análise de filmes com personagens trans, com Alice Marcone (próxima seção em fevereiro de 2022).

Esse curso da Alice, como já mencionamos, aprofunda noções importantes sobre narrativa, focado na construção de personagens. É dirigido para roteiristas e escritores, mas também indicamos para quem se interessa em estudar processos narrativos e crítica literária/cinematográfica.


– Um projeto para apoiar: a Casa Nem,

Coletivo radical, anticapitalista, vegano, queer e feminista para acolhimento LGBTI+, com sede no bairro do Flamengo, cidade do Rio de Janeiro. 

A casa corre o risco de fechar, e precisa de ajuda!

Lembramos que, como disse a Diana Salu, se você quer apoiar pessoas trans, é importante lembrar que elas sofrem mais com falta de oportunidade. Remunere pessoas trans, sempre que possível.

O programa completo, você pode ouvir por aqui:

O Primeiro Café é um podcast ao vivo de notícias e variedades, com humor e ternura, apresentado pelo Lucas. De segunda a sexta, às 8 horas da manhã no Spreaker e disponível nas principais plataformas de áudio depois das 9h da manhã. Tem outros 12 colunistas além dos balbúrderes, e só acontece com o apoio dos ouvintes.


P.S.: O único livro da foto que não abordamos, Travesti, é uma adaptação do romance homônimo de Mircea Cartarescu por Edmond Baudoin (minha tradução). Apesar do título, o livro não fala especificamente de transgeneridade. É um romance de autoficção, misturando sonho e desejos, narra as descobertas de um rapaz introspectivo sobre sua infância, ao ser confrontado com Lulu, e sua performance travestido. Primeira obra em quadrinhos de Baudoin publicado no Brasil.

Publicado por mckamiquase

Maria Clara Ramos Carneiro on ResearchGate https://orcid.org/0000-0003-2332-1109

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