O mundo segundo Jouralbo é livro com histórias do pai de Allan Sieber, o seu Jorualbo Sieber, um homem obcecado com o número 7 e cheio de causos pra contar, no traço de diversos artistas.
1) Allan Sieber roteirizou histórias de seu pai, Jouralbo, no começo da publicidade e da ilustração comercial no Brasil. O próprio Jouralbo desenhou e disso saiu o livro Ninguém me convidou (pela Conrad em 2010, com segunda edição pela Mórula, 2011). Dessa vez, em O mundo segundo Jouralbo (Mórula, 2016), Allan selecionou causos que o seu Jouralbo lhe mandava a cada 7 dias, com memórias e passagens de seu cotidiano, Cynthia B. roteirizou e um batalhão de gente desenhou (inclusive Jouralbo, Cynthia e Allan).

2) As histórias de Jouralbo me fazem pensar nas de Harvey Pekar: observações sobre o cotidiano sem necessariamente um desfecho arrebatador. Mas é isso, pedacinhos da vida de um cara que tem muita vida pra contar.

3) Menos autobiográfico que o Ninguém me convidou, este livro é mais observação e comentário, uma onda de crônica; menos memórias pessoais vindas do passado (de onde mais?) e mais percepções ligadas ao presente (de onde mais?). Tem causo que ouviu de amigos, história de aniversário, gatos, casa da praia, fila de banco, visita a médicos, filhos, netos, essa vida toda.

4) O desenho de Jouralbo é a arte comercial clássica, acadêmica. Ela, em comparação com os demais artistas convidados, gera um movimento de paisagem mental em mim, como se eu saltasse no tempo pelas referências de cada um. Essa inconstância do livro é um ganho, pois se perde no refinado e amplifica os artifícios visuais.

5) São 44 autores — não é múltiplo de 7 😦 — que me fazem pensar que esse livro, ao lado dos 3 volumes de MSP 50, seriam um bom apanhando de dois aspectos da cena brasileira de quadrinhos (aspectos que não são toda a cena, claro). Nomes que estão em ambos projetos, nomes que jamais passariam de um a outro e nomes que é uma pena que não estão lá ou cá.

6) Lendo os contos de Jouralbo, lembro das histórias que escuto nos almoços de família, histórias de tempos diferentes que não são registrados pela História maiúscula, porque se infiltraram nas vidas pelas frestas. E a história da venda de armarinhos no interior do Paraná é tão decisiva pro mundo como o desbravar de território. Depende de como que se conta.

7) Jouralbo adora o número 7 e por isso escrevia a cada 7 dias pro Allan com suas histórias (que envolviam o 7 algumas vezes). Ele se mostra bastante empolgado com seu aniversário de 84, que é múltiplo de (7 — 12 x 7), por exemplo. Acho que um texto sobre O mundo segundo Jouralbo precisa respeitar a pira do 7.
