[Vem Comigo] Um grande acordo nacional, de Robson Vilalba

Naquela época, boy chegava juntinho na balada e soltava:

“Golpe ou impeachment?”

Nem parece que faz tanto tempo assim, 2013 ainda parece que foi ontem, aquelas passeatas que a gente foi achando que estava protestando por algo legal e daí começou a perceber um monte de gente berrando por golpe militar. “Quero o apocalipse zumbi”, você dizia. Pois é, olha só…

Tem a memória e tem a história.

A história são os fatos, aquilo que aconteceu. Existem documentos, registros, testemunhos. Esses são os fundamentos do trabalho de Robson Vilalba em Um grande acordo nacional (Editora Elefante). Ele registra diversos episódios jornalísticos em torno do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

A coisa que mais me impressionou no trabalho do Vilalba foi o ritmo e a edição das informações. Tinha tudo pra desembocar num relatório chato de manchetes da época, mas ele usa o storytelling de um jeito que me faz ter respeito pela palavra. Avanços, recuos, cortes precisos.

O tempo presente é a tarde chuvosa do dia 8 de agosto de 2016, segunda-feira. Na praça Santos Andrade, em Curitiba, a tenda do Circo da Democracia aguardava o discurso de Dilma Rousseff. Robson Vilalba estava ali, tentando de alguma forma falar com a presidenta. E nas elipses dessa espera, uma sucessão de informações pontuais dispostas de maneira vertiginosa.

Aliás, não existe uma “vertigem” real aqui. É mais tipo uma atordoante agilidade em expor fatos e registros. Se existe um drama, uma vertigem, ela depende de você e sua leitura. Você lembra? Você estava lá vendo tudo afundar? A memória cheia de afetos.

Achei um trabalho poderoso, daqueles que fecha para sempre numa garrafa um pedacinho dessa infinita bad trip escrota que a gente se meteu. E, agora, olhando de longe, você suspira e me diz: “pois é, e a gente achava que tinha problemas”.

Força.