Continuando nosso esforço balburdiento de falar sobre publicações de autores que estarão na Bienal de Quadrinhos de Curitiba que VIRÁ A FURO daqui a 2 semanas (entre 8 e 11 de setembro), hoje ataco essa coletânea de charges e cartuns de Luiz Gê.
Ele é conhecido pelo álbum Avenida paulista (a gente deveria falar dele por aqui; fica aí a autocobrança, amigues). Ah, como era boa a ditadura, além das artes do Gê, tem o que eu considero o mejor da parada: textos de contextualização.
Não que eu não curta a arte do camarada, pelo contrário (aliás, aguardo ansioso uma publicação das histórias dele na Circo, na Chiclete com Banana e na Piratas do Tietê).
O livro retrata os últimos respiros da ditadura militar brasileira, já com a censura menos rígida e com um pouco mais de abertura ao humor e à crítica. Daí, Luiz Gê retrata figuras do governo e situações que faria um leitor de hoje perder a piada, não fossem os abençoadinhos dos textinhos de contextualização. Mais que a piada, o que esse leitor perderia seria a história dessa época. Sem essa compreensão, essa publicação serviria apenas de arquivo.
Me toca pensar esse livro como um misto de reportagem com as charges/cartuns do Luiz Gê, indo além de uma seleta de material da época. O texto verbal (não creditado, aposto minhas fichas no próprio quadrinista) não explica a piada, mas complementa os desenhos, da mesma forma em que eles são complementados pelas palavras.
Não se trata de um texto ilustrado, porque o objetivo da publicação são as charges; mas tão pouco é um texto assessório, dada a importância na geração dos sentidos e na graça que o próprio estilo do texto tem.
Essa relação entre o desenho e a escrita tem engrenagem parecida a das histórias em quadrinhos, mas não é. Ou talvez seja. Não sei, na verdade, mas acho uma boa discussão. Sobretudo, é um retratinho de quando o Brasil foi pior do que hoje.
Aquilo de absorver a história e aprender alguma coisa com ela, pra parar de repetir as cagadas. Pelo menos é essa a esperança de quem faz crítica política.