[Vem Comigo] A Espetacular Clínica da Monga Apresenta Caso Original

Uma sessão de psicanálise (ou seriam várias?) em formato restrito e a extensão do livro como performance fazem de A Espetacular Clínica da Monga Apresenta Caso Original, Tai Cossich (Lote 42, 2017) uma obra múltipla e interessantíssima.

Tenho uma paixonite invencível por obras que investem em sair do lugar-comum e tentam fazer algo ainda não feito. Mas essas obras só vão ser realmente inesquecíveis para mim se o novidadeiro nelas se encaixar no todo que ela propõe, se elas tiverem um conceito que junta tudo. Esse conceito não precisa ser algo absolutamente claro ou muito clássico, mas quando uma coisa leva a outra e o conceito ganha concretude na obra, ah, aí eu fico felizão mesmo.

Em A Espetacular Clínica da Monga Apresenta Caso Original, Tai Cossich cria um livro com desenhos simples, de pouca variação entre uma página e outra, artes simples que se repetem (a tal iteração), mas introduzem uma pequena diferença entre uma e outra. De saída, essa prática pede ao leitor atenção. Mais que isso, estimula que o leitor esteja atento e busque a diferença entre o que parece ser repetição.

A obra trata de um personagem na sessão de análise em que a palavra, o discurso verbal, é substituído por alguns signos já conhecidos dos quadrinhos e por alguns signos inesperados, e ainda em uma terceira força, algo que sempre fez parte da lógica quadrinística, mas é colocado em perspectiva de forma bastante original, como na sequência abaixo

A variação tipográfica não é novidade nas histórias em quadrinhos, mas poucas vezes é usada com essa carga significativa. Em meio à sessão (às sessões), há uma espécie de fantasia entre um escafandrista e a Monga (que é aquela personagem de circo de aberrações, em que uma mulher se transforma em gorila). A partir dessa fantasia que Monga sai das páginas do quadrinho: Cossich veste a máscara de gorila, coloca o divã a disposição e tem sessões de análise com quem quiser se deitar ali e conversar com ela.

Essa expansão da personagem que sai do livro e vem ao mundo analisar as pessoas traz concretude para o processo analítico ficcionalizado no livro, em que só se trabalha com material não verbal (com exceção da ilha da fantasia em que Monga aparece no livro, ou seja, é com essa personagem que as palavras vêm).

A própria Tai conta quem é a Monga e como fez o livro no vídeo abaixo:

 

No quadrinho todo o material é processado como imagem, mesmo o texto. A clínica da Monga (a performance) não é quadrinho, não se propõe a ser, mas gera um novo entendimento no livro: a análise que é uma imagem achatada e repetida, não é um contato real, a realidade é uma mulher com máscara de gorila que te ouve na calçada.

Agradecimentos à Lote 42 pelo envio do livro.

Publicado por lielson

Francisco Beltrão (1980) - Curitiba (2000) - São Paulo (2011) - Salvador (2017) - São Gonçalo (2018) - Santa Maria (2019).

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