Um homem encontra um número da sorte. A sorte lhe sorri, mas depois vem lhe cobrar com força. A história lúgubre é ambientada com desenho todo preto, de traço feito talho em madeira, como risquinhos desenhando na noite. 73304-23-4153-6-96-8, quadrinho de Thomas Ott, é um suspense macabro, como boa parte dos livros do autor suíço.
A técnica de Ott é o scratchboard, carte à gratter, em que usa um papel especial para ir riscando o desenho (Não encontrei uma boa tradução da técnica, alguém sabe?). Um avanço técnico em relação à gravura, mais fácil de ser realizada, no entanto mantendo esse aspecto rebuscado, quase barroco, da abundância dos risquinhos. E o fato de inverter as cores: é o papel preto que dá todo o ambiente obscuro do desenho.
(Não dá para deixar de pensar em outros autores que usam do contraste sobre o preto predominante para esse ambiente sombrio, como um quê de Frans Masereel, ou Olivier Deprez)


Li esse livro e o Cinema Panopticum há séculos atrás, em uma tarde na casa do beleléu Elcerdo, e fiquei fascinada. Na edição da velha entrevista do Killoffer, encontrei ele desenhado pelo Menu, e aí deu essa pira de mostrar esse trabalho para vocês.
La Bête à 5 doigts, também publicado pela L’Association na coleçãozinha “Patte de Mouche” (pata de mosca), ele usa a restrição de só mostrar as mãos da “besta de cinco dedos”: ora, ora, quem seria o grande predador do mundo?
Um dos seus últimos livros é Dark Country, de 2013, pela L’Apocalypse. O autor, além disso, é artista plástico e expõe em galerias pelo mundo.
Thomas Ott também é músico, e tem uma banda… demoníaca. Ouça aí, se não for ficar com medinho….