[1, 2, 3… já!] Ulipô, ubapô

Oficina virtual de quadrinhos potenciais

Coluna para difundir e motivar atividades Oulipo-oubapianas, em que todos possam participar enviando suas produções a partir das proposições.

Ulipô, ubapô

 

 

Num mundo distópico, segundo Pablo Carranza (ver SMEGMA #3), as escolas ensinarão quadrinhos e OuBaPo (leia /ubapô/) será matéria obrigatória. Quem dera. É, isso mesmo, senhores Mr. Blonde e Sr. Carranza, quem dera! Se tivesse OuLiPo (/ulipô/) e OuBaPo nas escolas, o ensino dos fazeres seria bem menos chato.

… Ou talvez eu concorde: tudo o que vira escola fica chato. E não é de forma alguma o que pensavam os autores que fizeram germinar essas ideias: trabalhar em oficinas, desenvolver estruturas, mas nunca virar escola.

E esse espaço aqui veio para propor (não impor) que, ao final do texto, você aí também tente fabricar alguma coisa. Ler esse texto, daqui em diante, pressupõe esse contrato: vou explicar um pouco o que é, o que faz, esse tal de OuBaPo. Ao final dessa introdução, uma proposta de atividade, com tempo limitado para executar. Você se controla, marca seu tempo. Pode finalizar depois, mas o principal é realizar no tempo medido e calibrado, e respeitar as regras do jogo. Dou as regras, você lê, conta 1, 2, 3, já! e faz. Ok? E você pode mandar sua produção pro email, postar link, como quiser.

Então, vamos lá.

SENTA QUE LÁ VEM PANORAMA
OuBaPo, a grosso modo

O princípio é isso mesmo: um jogo, seguir suas regras, e não ficar esperando a Musa baixar. O nome é um acrônimo de OUvroir de la BAnde dessinée POtentielle, literalmente oficina de quadrinhos potenciais. A palavra-chave é potencial, no sentido matemático da palavra, em o que tais regras permitiriam a alguém que se submetesse a elas. O termo oficina também é essencial: são pessoas que produzem coletivamente, mesmo que seus trabalhos sejam individuais. Portanto, em vez de uma ideia de produção de um trabalho artístico criado em segredo por um gênio, há por detrás o pensamento de que toda produção de texto, desenho, quadrinho, música, segue uma série de regras pré-concebidas, e sua existência depende de muito trabalho – não inspiração. E a partir de trocas, com outras pessoas.

A base vem de um grupo de escritores e matemáticos que, nos anos 1960, passaram a se reunir para propor atividades fechadas, estritas: “ratos que criam o labirinto onde eles mesmos irão se perder”. Não se trata, portanto, de experimentar com o que vem à cabeça. Como naquela velha brincadeira em que não se pode dizer “É, não e porque”, cortar as asinhas de quem vai fazer alguma coisa antes que comece a fazer.

O exemplo mais famoso foi de um livro inteiro escrito sem a letra eLa Disparition, de Georges Perec (publicado este ano pela Intrínseca, sob o nome O Sumiço, com tradução de Zéfere), se tornou o exemplo maior do OuLiPo. Mas isso serão cenas dos próximos capítulos. Os oubapianos começaram a se reunir nos anos 1990, e um dos livros mais importantes do grupo é o Exercices of Style, de Matt Madden. Partindo de uma história banal, sua matriz, ele declinou 99 outras histórias, mudando apenas estilo 

CRIAÇÃO

A Logo-Gincana e a Grafo-Gincana

Dito isso, vamos à primeira atividade, bem simples de se conduzir se você for aplicar. Primeiro, precisa pedir às pessoas para falarem palavras, e olhamos as palavras que o grupo vai dizendo e pensando nos seus possíveis sentidos, dependendo do lugar em que ocupam (o contexto da narrativa). O nome dessa atividade, em francês, é logo-rallye: logo = palavra; rallye = um percurso obrigatório a ser percorrido (foi traduzido como logo-gincana pelas pesquisadoras Ana Moraes e Ana Alencar, pioneiras nas oficinas de escrita potencial-oulipianas no Brasil).

Pois eu pedi a amigos no FB me ditarem algumas palavras. Limei muitas para a gente. Você vai ler essas palavras e vai produzir um texto na ordem em que elas aparecem. Pouco importa o estilo ou o tamanho do trabalho.

lonjura

nudes

banana

tóim

monstro

frio

almoço

duas

desesperar

amendoim

quinquilharia

choquito

Uma variante, especialmente criada especialmente para vocês, é a grafo-gincana. Você pode criar uma página ou mais de quadrinhos a partir dessas palavras, ficando à seu critério se elas aparecem em forma verbal ou desenhada. 

Então, vamos lá.

  1. Leia as palavras e pense em seus sentidos.
  1. Você tem 15 minutos para escrever o texto ou 30 minutos para o rafe. Prepare o cronômetro!

1,

2,

3…

JÁ!

Você pode escolher entre duas formas de fazer o exercício: a logo-gincana ou a grafo-gincana. 

No aguardo da sua produção!

(Pode postar ou enviar para: kamiquase@gmail.com)

Publicado por mckamiquase

Maria Clara Ramos Carneiro on ResearchGate https://orcid.org/0000-0003-2332-1109